quarta-feira, 1 de julho de 2009

Mírense en el pasado, Cristina e Néstor!

O kirchnerismo parece estar com os dias contatos. Que os argentinos saibam fazer uma transição dentro da institucionalidade. Faltam dois anos para a sucessão na Casa Rosada. Os passados remoto recente devem servir de lição. Aprendam com nosotros, hermanos! A seguir sintético e elucidativo texto do jornalista e cientista político Mauricio Santoro, (http://www.todososfogos.blogspot.com/, 30/06/2009), meu professor no MBA de Relações Internacionais da FGV:
A Derrota dos Kirchner

As eleições legislativas da Argentina, ocorridas no domingo, marcaram a derrota dos Kirchner. O bloco político liderado pelo casal perdeu nas principais regiões do país e até em sua base tradicional em Santa Cruz. Com os resultados, dissolve-se a frágil maioria que tinham no Congresso, e pela primeira vez um governo peronista terá que lidar com um parlamento dominado pela oposição. Não é bom augúrio para os dois anos de presidência que restam a Cristina Kirchner, num cenário de turbulências econômicas, políticas e até epidemias de saúde pública – a gripe suína matou mais na Argentina do que em todos os demais países sul-americanos somados.
A oposição conservadora do Unión-Pro venceu na província de Buenos Aires com o empresário colombiano Francisco de Narváez. Dissidente do peronismo, ele se aliou ao prefeito portenho, Mauricio Macri, e concorreu com o slogan da “mudança” (veja o vídeo de campanha, abaixo, com a cortesia de sempre de Dom Patrício Iglesias). Conseguiu chegar num apertado primeiro lugar na província que historicamente é a base peronista. Lembra um pouco o que ocorreu em 2005, quando os Kirchner desbancaram os antigos caciques locais, o casal Duhalde.
A Unión-Pro também venceu na capital, o segundo maior colégio eleitoral do país – a cidade de Buenos Aires é um distrito eleitoral separado da província. Isso não surpreende, pois tradicionalmente o eleitorado portenho vota contrariamente ao governo federal. A oposição de centro-esquerda se saiu muito bem em Buenos Aires, com destaque para o Projeto Sul, novo movimento liderado pelo cineasta Fernando Solanas, que chegou em segundo lugar. Sua plataforma é um apelo nacionalista pela retomada do controle estatal sobre os recursos naturais da Argentina. Em terceiro ficou a veterana líder anti-corrupção, Elisa Carrió, pela coalizão Acordo Cívico-Social.
Em outras províncias importantes, como Córdoba, Santa Fé e Mendoza, o governo também sofreu derrotas graves, com freqüência chegando em terceiro ou quarto lugar entre os diversos candidatos. Foi uma claríssima mensagem de repúdio do eleitorado aos problemas dos governos dos Kirchner: autoritarismo, intransigência, conflitos políticos, má gestão da economia, manipulação dos índices oficiais de inflação. O clima pré-eleição foi tenso. Acompanhei por amigos argentinos e páginas do Facebook o receio de fraudes massivas. A votação foi calma, com poucos incidentes, mas os boatos mostram a intensidade da crise política no país.
Os jornais especulam sobre uma iminente reforma ministerial no governo Cristina. É difícil imaginar uma volta por cima dos Kirchner, diante de resultados eleitorais tão arrasadores. Nestor já renunciou à presidência do partido peronista. O que se coloca como necessidade primordial é a construção de um acordo de governabilidade, para evitar uma paralisia do processo de decisões do Estado que poderia gerar graves problemas na conjuntura da crise econômica. Precedentes como os das presidências de Alfonsín e De La Rua devem estar na cabeça de muitos cidadãos argentinos neste momento.

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