sábado, 4 de julho de 2009

2010: duelo de tratores

Por Murillo Victorazzo
Caso tenha sido exatamente como noticiado pela grande imprensa, a demissão do secretário-executivo do Ministério da Integração Regional, Luis Antonio Eira, terá sido o sinal mais claro do quão complicado é a personalidade da ministra da Casa Civil, Dilma Roussef. Não é novidade que sua relação com assessores ou correligionários sempre foi delicado, devido ao seu pavio extremamente curto. E que moderação verbal nunca foi uma de suas virtudes. No entanto, até então, nada havia causado constrangimentos maiores com aliados, a ponto do número dois de um ministério deixar o cargo em protesto contra o modo com que foi tratado.
Como "gerente" do governo, seu temperamento já complicava o relacionamento com a bancada governista e a burocracia. Agora, contudo, as consequências vão além. Se não bastasse sua total falta de carisma e retórica tecnicista e modorrenta, seu modo de ser, que resvala num certo autoritarismo, antipatia e grosseria, muito provavelmente será mais um senão em sua candidatura à Presidência da República.
Se já havia dificuldades em conquistar o apoio de todo o PMDB a ela, esse caso só vem a complicar a costura da aliança. Mais uma vez, caberá ao presidente Lula colocá-la nas costas e minimizar a situação. Em um momento de crise política no Senado, com o PT se estranhando com o presidente da Casa, José Sarney, qualquer faísca pode tornar-se um incêndio.
No entanto, tais características não se encontram apenas na candidata governista. Historicamente, o governador de São Paulo, José Serra, sempre foi tido como um "trator". Igualmente sem muito carisma e pouco afeito a amabilidades, ele também coleciona inimizades por seu estilo centralizador e seu modo áspero de fazer política.
Simpatia e docilidade serão palavras ausentes no dicionário eleitoral brasileiro do próximo ano, caso a personalidade de seus protagonistas imperem. Após eleições em que foram marcantes o carisma e o sorriso cativante de Luis Inácio Lula da Silva, a fleugma intelectual de Fernando Henrique ou até a insossa sobriedade de Geraldo Alckimim, 2010 parece que será uma disputa para se escolher qual elefante sabe andar melhor em uma cristaleira. Sorte nossa, pelo menos, que ter tais características não significa necessariamente apreciar golpes baixos em uma campanha.
De qualquer modo, a certeza é que teremos uma campanha presidencial bem diferente das vistas desde a redemocratização, no tocante ao potencial de cativar os corações do eleitorado. Exceto pela figura de Lula como cabo eleitoral, parece que os candidatos terão que conquistar votos somente pela razão e pelo que representam. Se depender de simpatia e simbolismo, Dilma e Serra competirão para saber quem consegue maquiar-se melhor. Para o quadro ficar completo, só falta Ciro Gomes e sua "sutileza" entrarem no jogo...

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